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Série Ansiedade.#1 Em busca do tempo perdido.


Ansiedade tem a sua etimologia no latim angere, que remete para apertar, sufocar, aliado aos conceitos de respiração e liberdade; remete para ideias de estreitamento, projecção no futuro, de algo que teremos confrontar no futuro.




A Ansiedade habita-nos. Quando nos bate à porta, é importante que seja encarado como um sintoma. Um sintoma que nos deixa as pernas a tremer e pode ser bastante incapacitante. Na verdade é um sinal físico de que não estamos sintonizados com os nossos valores intrínsecos. Temos medo do futuro e da sua imprevisibilidade. Algo está dessincronizado na liberdade interna. E não conseguimos ver ou pensar o que será. É difuso e desconfortável. Desorganizador.


A ansiedade não resulta de uma #perda, #medo ou #luto concretos, tal como acontece com a #depressão. A Depressão é a reacção natural perante uma perda, uma mudança ou um bloqueio, com um processo de luto associado. Uma perda real que aconteceu efectivamente.


A ansiedade é o medo de que algo aconteça no futuro. Ainda não aconteceu, mas poderá acontecer. Uma reação concreta de medo que uma determinada situação ocorra no futuro, Mas não ocorreu. O medo da morte, medo da perda de controlo, medo de mudanças, medo do desconhecido, medo de perder o trabalho, medo de ficar doente, entre outros medos.


Todos somos acometidos pela Ansiedade em alguma altura da vida. A questão é quando extravasa os limites do saudável, e provoca um sofrimento atroz. Transborda. E não sabemos que transborda. Apenas sentimos um desconforto. Sentimos desorientação, tremores, o coração bate mais rápido, as mãos transpiram, e a garganta seca. E neste momento parece que o cérebro pára. Nada é consciente ou controlável. Não é visível nem tem nome.


O processo de tornar consciente o que não sabemos, visível o que não vemos e dar nomes às palavras que nos descrevem, é fundamental. Destrinçar o desconforto. Decompô-lo em pedaços mais pequenos e encontrar um nome para cada um. Compreender.


O processo terapêutico é um caminho eficaz para esta descoberta.


O conhecimento não nos acrescenta quando acumulamos em quantidade, apenas quando é absorvido na sua qualidade e com um sentido individual.

Quando o compreendemos. Quando nos faz sentido para a nossa história.


Medo é ter Consciência. Existe uma ideia pecaminosa sobre o medo. Toda o sofrimento vem do evitamento desse medo, que aparece como um sinal de fraqueza. Pelo contrário, o medo é um sinal de consciência e alerta das consequências de determinadas situações.


Não existem guerreiros descritos na história do mundo que não tivessem medo nas suas epopeias grandiosas. Júlio César e Marco Aurélio nos seus diários escritos de pensamentos, referem o lado muito humano dos guerreiros e da vida de risco.


A forma como posicionamos o medo é extramente revelador da nossa forma de ver o mundo. Pode ser colocado atrás de nós, sendo cada um a tomar as rédeas dos impulsos. Pode ser colocado à nossa frente, como um sinal de alerta permanente, como uma lente que contamina as possibilidades do presente e do futuro em ameaças.


Temos medo de ter medo. Perdemos a nossa lucidez.

O medo que acompanha a ansiedade, é o pânico.


O medo existe quando existe a possibilidade de perder, e a consciência dessa possível perda. Só não existe medo quando não existe consciência, capacidade para ver ou saber.


Contudo, a hipervigilância constante pode contaminar a realidade minimamente segura e controlada como ameaçadora.


Destrinçar a ameaça real da possibilidade é fundamental. Criar um limite bem definido é um processo exigente, mas importante. O limite acalma a Ansiedade, com uma sensação de segurança, como uma porta de casa fechada, salvaguardando a proteção de cada um, sem os sintomas de alerta e vigilância permanentes.

Então, o que fazer?

É fundamental, parar, reflectir e resolver a ansiedade que provoca sofrimento. Se provoca um sofrimento circular, não poderá ser saudável.

Contemplar. Antecipar. Construir. Criar. Escrever. Pintar. Reflectir. Organizar.

Escolher comportamentos construtivos pensados. Não ceder aos comportamentos destrutivos impulsivos.

Fazer uma psicoterapia.


Cátia Ruas Antunes, 2021.



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