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Writer's pictureCatia Ruas Antunes

Amor ou desamor...?

Rebecca estava dominada por uma dor fulminante. Um medo. Um ódio ou desgosto que alimentava diariamente. Hora após hora. A noite vivia num tormento de vingança. Vários meses vestiu a capa da indignação delimitada pela revolta. A paranóia e delírio invadiram o seu espaço tão confortalvemente que os seus amigos e familiares já se sentiam impotentes perante tanta surdez de realidade.

Revolta. Raiva que não se via. Escondia. O corpo mostrava. Às dores do corpo devolvia a sua força.à natureza. Começaram as dores da ansiedade. Somos todos feitos de ansiedade? Um pouco de loucura que corre nas veias com uma acidez maléfica que engana cada célula do corpo. E da mente. "O amor é fogo que arde sem se ver." Mas não é só o amor que arde.... É a zanga. O medo. A tristeza. São dores físicas que desencantam o equilíbrio do corpo. A ansiedade tem por base um medo desconhecido. O medo atropela o controlo que achamos ter sobre nós e a nossa vida.

Rebecca transmitia um turbilhão interno de revolta. Uma revolta que nunca foi traduzida em palavras. Talvez não houvesse possível tradução.

Na segunda sessão disse-me que nunca se perdoaria. E isso teria consequências nos seus atos e impulsos. Tudo era muito vago. Não confiava. Claramente. Os atos de amor fugiram-se-lhe. A angústia apenas se reflectia nas lágrimas incessantes. Só queria cumprir o seu plano de vingança. A sua missão. O sentido para a vida. Vingar quem lhe fez mal. Não estava preparada para o revelar.

Rebecca nasceu numa família destruturada que se estruturou ao longo dos anos. Melhorou. Tinha capacidade em perdoar a família. Um percurso solitário, mesmo que numa família numerosa.

O amor era estranho. Era às vezes e não era outras vezes. Muito instável. Quem cresce na instabilidade do amor, aceita muitas migalhas de ilusão.

Um dia ganhou uma medalha de mérito. Não conseguiu revelar a ninguém. Era sua. Ninguém lhe podia tirar essa medalha. Não poderia permitir. A sua defesa. Sobrevivência. Mérito na dor. Mérito solitário. Era tão bom. Não deixaria contaminar.

Para que serve então o mérito sem público? Seria está a sua solidão.


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